Curta!

[CRÔNICAS DO REAL #2] Função "mamãe": como um cão travesso me ensinou a amar

22 janeiro 2015


Meu nome é Patrini, e eu sou mãe. Meu filho tem quatro patas, focinho gelado, pelos macios que ele insiste em sujar, garras afiadas, latido rouco, orelhas atentas, olhos brilhantes, cara inocente e rabo balançante. O nome dele é Visconde, e meu coração é inteiramente preenchido por esse canino travesso.

Visconde entrou na minha vida de uma forma nada premeditada, na verdade. Todos aqueles que me conhecem sabem o quanto eu gosto de cachorros, e era exatamente por amar esse bichinhos que estava procurando um em adoção. Além de ótima companhia, eles são os bichanos mais carinhosos que conheço, e eu ia ganhar um bebê para chamar de meu. Confesso que depois de muito procurar, sem nenhum sucesso, apesar de todos os animaizinhos precisando de um lar por aí afora, eu já estava a ponto de desistir. Foi então que surgiu um anjo salvador nos meus dias, e me levou para conhecer o Visconde.

Logo que cheguei na casa da senhora que cuidava dele desde que ele fora encontrado na rua, fui bombardeada com uma onda interminável de perguntas. E por mais surpresa que ficasse, esse fato também me deixou contente: era notável o quanto a boa senhora se preocupava com o bichano. Depois de responder a todas as questões da melhor forma possível, fui levada para a sala onde estava o cachorrinho. E no momento em que a porta se abriu, eu sabia que nós estávamos destinados um ao outro.

Isso pode parecer clichê e completamente precipitado, mas os olhinhos daquele bichano me diziam que eu devia levá-lo para casa. Que todo o meu carinho devia ser dele, e que ele seria um dos melhores presentes que eu ganharia na vida. Preciso esclarecer que já tive outros cachorrinhos, sempre fui apaixonada por cada um deles, mas com o Visconde foi algo parecido com amor à primeira vista. Ele estava lá, deitado, com as orelhas em pé, o pelo eriçado na nuca pela coleira muito pesada para sua pequena cabecinha, o rabo abanando, farejando tudo ao seu redor. Levou um segundo até que ele percebesse que havia visitas, e então ele levantou-se, correu ao meu encontro e se jogou aos meus pés. No mesmo instante , me agachei e peguei-o no colo, onde ele se aninhou por entre meu pescoço e o ombro, sua cabeça deitada suavemente, como se fosse feita para ficar ali. E depois desse momento terno, o monstrinho dentro dele se revelou: senti meu cabelo sendo puxado pela mordidas, e eu fui atacada: um ataque de lambidas. O melhor ataque da minha vida.

Depois de todos os risos, a boa senhora disse uma coisa que eu própria sentia:
- Ele reconheceu você!
E eu o reconheci. Eu soube que podia parar de procurar, porque tinha encontrado a companhia que buscava, e meu coração se encheu de alegria, e meus olhos não conseguiam parar de olhar para aquele bichinho novamente encolhido em meu braços. Fiquei mais algum tempo na sala com ele, brincando como uma criança novamente. Depois de me retirar, deixei um pedaço do meu coração com ele.

Na cozinha, a senhora já havia preparado um chá e me convidou a sentar-se com ela. Aceitei, e ela contou-me como havia encontrado Visconde na rua: ele estava praticamente sem pelo nenhum por motivo da doença da qual sofria, suas patas estavam machucadas, a aparência era de um cão que há dias não comia, e ele não deixava ninguém aproximar-se, era assustado e arisco. Ele contou-me que conseguiu trazê-lo para casa depois de alguns dias levando comida, mostrando que ia machucá. Levou-o ao veterinário e fez o tratamento para tratar a doença. Ele ainda usava um creme para os pelos voltarem a crescer, mas o restante havia sido resolvido. Ela disse-me que foi um dos casos de abandono mais complicado com o qual ela havia lidado, e tudo que ela desejava agora era um lar para o bichano, com pessoas amorosas que soubessem cuidar dele como um verdadeiro membro da família. Se eu tivesse algumas dúvida sobre adotá-lo ou não, ela teria sido extinta quando a senhora me contou a história do Visconde. Depois de todo o sofrimento pelo qual o bichinho passou, eu queria ser a pessoa a mostrar a ele que ainda podia confiar em um humano. Que nem todos eram como aqueles que o tinham abandonado, que nós também éramos capazes de amar. Quando a velha senhora me perguntou se eu realmente queria adotá-lo, eu nem pensei duas vezes antes de dizer sim. E foi assim, como quem não quer nada, que Visconde ganhou meu coração, e me fez perceber que aquela foi a decisão mais acertada que já tomei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário